sábado, 3 de maio de 2008

Nesta fase de despedidas, achei esse texto de um escritor que amo.

DESPEDIDA


Não são vocês. Juro. Vocês são o máximo. Eu é que... Não, não vou me culpar, não vou dizer que “sou um idiota” ou “não sei o que está acontecendo”. Eu sou legal, vocês também e está tudo certo: é que tem uma hora que as coisas acabam. Ou continuam, só por preguiça ou falta de coragem de darmos um fim a elas, até irem murchando, embolorando. E isso eu não quero, nem vocês, certo?Eu comecei aqui em 2001. Era um moleque de 23 anos, que ainda estranhava ter saído da escola, ter que ganhar a vida e pendurar os próprios quadros na parede. Não tinha me acostumado com o fato de que -- como escrevi numa das primeiras crônicas -- “se fizesse alguma coisa muito errada, iria para a cadeia, não para a sala do diretor”. Eu era um espião do lado de lá do terceiro colegial, dando (e procurando) uma piscadela cúmplice: ei, esses adultos são muito estranhos, né?Durante todo esse tempo, eu disse tudo o que sabia (e o que não sabia, também) sobre escola, pais, primeira vez, namoros, drogas, anorexia e o sentido da vida. Opinei, com a maior cara de pau, sobre Deus e o mundo. Acontece que agora já estou com os dois pés fincados em território inimigo: tenho uns fios de barba brancos e -- confesso, envergonhado -- um multi-processador, não faço a menor idéia de quem seja Amy Winehouse e preocupa-me muito mais saber como vou criar meus filhos do que a relação com meus pais, entendem?Vocês não sabem o quanto aprendi com vocês. Sério, não é demagogia de despedida. Para escrever aqui, semana sim, semana não, por sete anos, fui obrigado a olhar para trás, para frente, para os lados e, principalmente, para dentro. Escrevendo o Estive Pensando eu me tornei cronista e, de certa forma, adulto.Sabe o que? Acho que pra vocês também vai ser muito legal. Nunca mais vão ter que me ouvir reclamando da adolescência, falando que o amor é lindo e a vida, apesar de difícil, é bela. Vão conhecer pessoas novas, descobrir maneiras diferentes de usar as frases e as crases, construir parágrafos e discursos, terão outros pontos de vista e pontos finais. Vão viver coisas que não viveriam, se continuassem comigo.Quando começamos, éramos todos muito novos. Nós crescemos juntos, aprendemos juntos e nos entregamos, inteiros, por bastante tempo. Agora é hora de irmos cada um pra um lado, com os corações abertos e tentarmos ser felizes – não para sempre, porque isso não existe, mas sempre que possível. Muito obrigado por tudo. Mesmo.


Antônio Prata, Blog Amores Expressos.